quarta-feira, 3 de maio de 2017

COLETÂNEA DE TEXTOS DO EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

A Felicidade não é deste Mundo 


Não sou Feliz! A Felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem, em todas as posições sociais. Isto prova meus caros filhos melhor que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”. Com efeito, nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor, são condições essenciais da felicidade. Digo mais: nem mesmo a reunião dessas três condições, tão cobiçadas, pois que ouvimos constantemente, no seio das classes privilegiadas, pessoas de todas as idades lamentarem amargamente a sua condição de existência.

Diante disso, é inconcebível que as classes trabalhadoras invejem com tanta cobiça a posição dos favorecidos da fortuna. Neste mundo, seja quem for cada qual tem a sua parte de trabalho e de miséria, seu quinhão de sofrimento e desengano. Pelo que é fácil chegar-se á conclusão de que a terra é um lugar de provas e de expiações. 

Assim, pois os que pregam que a terra é a única morada do homem, e que somente nela, e numa única existência, lhe é permitido alcançar o mais elevado grau de felicidade que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os ouvem. Basta lembrar que está demonstrando, por uma experiência multi secular, que este globo só excepcionalmente reúne as condições necessárias á felicidade completa do indivíduo.

Num sentido geral, pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja perseguição se alcança as gerações, sucessivamente, sem jamais a alcançarem, porque, se o homem sábio é uma raridade neste mundo, o homem realmente feliz não se encontra com maior facilidade. Aquilo em que consiste a felicidade terrena é de tal maneira efêmera, para quem não se guiar pela sabedoria, que por um ano, um mês, uma semana de completa satisfação, todo o resto da existência se passa numa seqüência de amarguras e decepções. E notai meus caros filhos, que estou falando dos felizes da terra desses que são invejados pelas massas populares. 

Conseqüentemente, se a morada terrena se destina a provas e expiações, é forçoso admitir que existam, além, moradas mais favorecidas, em que o Espírito do homem, ainda prisioneiro de um corpo material, desfruta em sua plenitude as alegrias inerentes á vida humana. Foi por isso que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão um dia gravitar, quando estiverdes suficientemente purificados e aperfeiçoados.

Não obstante, não se deduza das minhas palavras que a terra esteja sempre destinada a servir de penitenciária. Não por certo! Porque, do progresso realizado podeis facilmente deduzir o que será o progresso futuro, e das melhores sociais já conquistadas, as novas e mais fecundas melhoras que virão. Essa é a tarefa imensa que deve ser realizada pela nova doutrina que os espíritos vos revelaram. 

Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime, e que cada um dentre vós se despoje energicamente do homem velho. Vos entregue inteiramente á vulgarização desse Espiritismo, que já deu início á vossa própria regeneração. É um dever fazer vossos irmãos participarem dos raios dessa luz sagrada. Á obra, portanto, meus caros filhos! Que nesta reunião solene, todos os vossos corações se voltem para esse alvo grandioso, de preparar para as futuras gerações um mundo em que felicidade não seja mais uma palavra vã.

François- Nicolas-Madelaine

(Cardeal Morlot, Paris, 1863) – (Espírito) 


Fonte: Allan Kardec (O Evangelho Segundo o Espiritismo)

(Tradução de J. Herculano Pires) – 55. Edição – São Paulo/SP.

Editora: LAKE – Fevereiro/2000 - Pág.: Capítulo V – (87/88) 






Os Tormentos Voluntários

O homem está incessantemente á procura da felicidade, que lhe escapa a todo instante, porque a felicidade sem mescla não existe na terra. Entretanto, apesar das vicissitudes que foram o inevitável cortejo desta vida, ele poderia pelos menos gozar de uma felicidade relativa. Mas ele a procura nas coisas perecíveis, sujeitas ás mesmas vicissitudes, ou seja,nos gozos materiais, em vez de buscá-la nos gozos da alma,que constituem uma antecipação das impermeáveis alegrias celestes. Em vez de buscar a paz do coração, única felicidade verdadeira neste mundo, ele procura com avidez tudo o que pode agitá-lo e perturbá-lo. E, coisa curiosa, parece criar de propósito os tormentos, que só a ele cabia evitar. 

Haverá maiores tormentos que os causados pela inveja e o ciúme? Para o invejoso e o ciumento não existe repouso: sofrem ambos de uma febre incessante. As posses alheias lhes causam insônias; os sucessos dos rivais lhes provocam vertigens; seu único interesse é o de eclipsar os outros; toda a sua alegria consiste em provocar nos insensatos como eles, a cólera do ciúme. Pobres insensatos, com efeito, que não se lembram de que, talvez amanhã, tenham de deixar todas as futilidades, cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”, pois os seus cuidados não têm compensação no céu. 

Quantos tormentos, pelo contrário, consegue evitar aquele que sabe contentar-se com o que possui que vê sem inveja o que não lhe pertence, que não procura parecer mais do que é! Está sempre rico, pois se olha para baixo, em vez de olhar para cima de si mesmo, vê sempre os que possuem menos do que ele. Está sempre calmo, porque não inventa necessidades absurdas, e a calma em meio dos tormentos da vida não será uma felicidade? 

Fénelon (Lyon, 1860) 

Fonte: Allan Kardec (O Evangelho segundo o Espiritismo) 
(Tradução de J. Herculano Pires) – 55. Edição – São Paulo/SP. 
Editora: LAKE – Fevereiro/2000 - Pág.: Capítulo V – (91) 



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