sábado, 1 de setembro de 2012

Meu Pai me aguardou para morrer

Meu Pai me aguardou para morrer 

Escrevi sobre minha mãe em outro capítulo, mas neste gostaria de escrever sobre o meu pai. Ele era mais calado. Isto não significava que entre nós dois houvesse qualquer distância. Lembro-me do calor de suas largas costas quando me carregava na infância. A alegria que eu sentia quando ele me levava sentado em seu pescoço. Não são essas alegres recordações que estão mais impregnadas na minha memória, mas sim a sua postura compenetrada nos afazeres da lavoura ou em qualquer outro serviço. 

Fomos sempre pobres, mas ele nuca fazia disso uma tristeza. Meu Pai viveu toda sua vida para a agricultura. Se quiser descrevê-lo agora, diria que era uma pessoa simplesmente para paradisíaca. Ele havia se destacado nas guerras contra a China e contra a Rússia e, apesar de ter lutado na frente de batalha, quando me alistei com distinção no Exército, e fui posteriormente mandado á Manchúria, ele foi o primeiro a mostrar lágrimas na despedida. Todo o dia deleitava-se com um copo de saquê na hora do jantar, e quando tínhamos visita e ultrapassava essa medida nem bem ficava eufórico e alegre, já acabava dormindo. 

Tinha mais de setenta anos quando tombou de derrame cerebral. Eu me encontrava na frente de guerra na Manchúria, mas recebi um aviso pelo sonho. Já estava terminando o verão de 1941. No final do ano seguinte, dei baixa e voltei para casa são e salvo. Em agosto de 1943, abriram-se as portas para a minha vida religiosa. Imediatamente, comecei ministrar johrei em meu Pai durante uma semana seguida. Ele conseguiu melhorar ate poder andar agarrado a um carrinho de bebê. 

Em Outubro de 1943, ignorando a oposição dos que me cercavam iniciei em Nagoya. A divulgação da fé que abraçara. Foi uma transformação abrupta de 180 graus, vendendo tudo que socialmente havia conseguido e lançando fora todo patrimônio material. Experimentando eu mesmos inúmeros milagres que nasciam do johrei, que curava através da imposição das mãos, entregaram-me totalmente a esta prática. Porém, precisei de bastante tempo para que os meus familiares aprovassem minha atitude. Somente meu Pai, desde o início, depositou inteira confiança em mim. Eu não tenho cabeça boa e não conheço muitas coisas e, portanto não posso fazer nada para ser útil aos outros; mas tenho certeza de que você conseguirá expressar assim a sua alegria em ver minha mudança de vida. Normalmente, eu ministrava de 30 minutos até uma hora de johrei, mas em meu Pai bastava uns 3 minutos e ele voltava as seu leito, dizendo estar aliviado. 

Sinto que fui aprofundando minha fé, acumulando as experiências na ministração do johrei. Aumentava gradativamente o número de pessoas que eu encaminhava á igreja. Nessa ocasião, eu levava a pessoa de Nagoya até á Sede em Tóquio, onde ela recebia as aulas e terminava com a outorga do Ohikari. Será que não pode vir a Nagoya para as aulas? Perguntava vez por outra ao Rev. Shibuí. Se você conseguir reunir cinqüenta pessoas poderei ir. Respondia-me. Eu me animava com essa resposta, e com o desejo de realizar os aprimoramentos em Nagoya, consegui depois de meio ano, em março de 1944, realizar a primeira aula naquela cidade. 

Ao termino das aulas, que foram feitas nos dias 5, 6,7 de março o Rev. Shibuí comunicou-me que poderia vir novamente no mês seguinte. Incentivado por suas palavras, fui aumentando o número de pessoas encaminhadas e a segunda aula ficou marcada para os dias 25, 26,27 de Abril. Nessa época, eu havia deixado minha família em Guifu, onde meus pais moravam e me deslocava até Nagoya. E como havia necessidade de e dirigir a regiões vizinhas para difundir e ministrar johrei voltava para casa uma ou duas vezes por semana. Em relação ao aprimoramento, tinha de cuidar da sua organização e andamento, além de outras atividades e, portanto era quase que obrigado a ficar no local desde a véspera. Todas as noites conversavam com os presentes. Esses dias eram importantes porque daí nascia aqueles que poderiam servir de lastro á difusão que se tornariam verdadeiros discípulos de Deus. 

No primeiro dia desse aprimoramento, na hora do descanso do almoço do dia 25, o primo da minha mulher veio correndo me avisar: Katsuiti volte depressa. Vim a pedido de Tomiko, sua esposa, pois seu Pai não se encontra bem. Parece que está ultrapassando o cume. Ela quer que você volte imediatamente, viera avisar-me rapidamente sobre a urgente situação. É natural que o filho, ao receber noticia de perigo dos pais, corria ao seu encontro, sem constrangimentos. Mas aqueles três dias eram importantes, pois, os que se reuniram foram todos encaminhados por mim e, portanto, não poderia deixá-los, abandonando-os daquele jeito. 

Queria voltar, queria presenciar o último suspiro de meu Pai. Era meu Pai, aquele que gostava de receber johrei comigo, e que mais do que ninguém, confiava na minha nova maneira de viver, incentivando-me e animando-me. Desejava ministrar-lhes o último. 

Disse ao meu primo: Peço desculpas pelo trabalho que lhe causei. Sou imensamente grato pelo favor de vir correndo me avisar, mas diga a Tomiko que não poderei voltar por três dias. Sua reação já era esperada. O que você esta dizendo? É o médico quem esta afirmando que não se sabe quando poderá morrer, e você diz que só pode vir depois de três dias? Ele já esta dormindo por três dias e na toma uma só gota de água. Ainda assim você se diz filho de Deus? Por que não pode voltar agora? Esses três dias são importantes para mim. Eu tenho que realizar esta tarefa sem nenhum contratempo. Meu Pai sabe que tipo de trabalho é o meu. Portanto, ele esperará três dias pela minha volta, tenho plena certeza disse-lhe afirmativamente. 

Estava certo de que neste seu segundo ataque de derrame ele não se salvaria como aconteceu quando ocorreu o primeiro. Ele já estava com 74 anos. Agora que estava para ultrapassar o cume da sua longa existência bem vivida, eu não sentia tanta tristeza e angústia pela eterna despedida. Mentalizando uma prece, pedi-lhe desculpas por não poder ir imediatamente, e dirigi-me ao meu primo: Por mais que você insista, eu ficarei aqui. Mas quando tudo se encerrar, voltarei correndo. Você deve estar louco. O que é essa reunião de salvar pessoas? Dizem que aquele que não vir a passagem dos pais é indigno. Pense no sofrimento de sua mãe e de sua esposa. Eu o desprezo, se quer saber ficou bravo, falava aos berros e, por fim, foi-se embora sozinho. 

Na tarde do dia 27, encerramos sem contra tempos o segundo aprimoramento e cerca de cinqüenta pessoas tornaram-se membros. Quando, após a limpeza e ordenação geral, Cheguei a casa, já era tarde avançada. Dormindo por seus dias, meu Pai ainda estava vivo. As pessoas que estavam sentadas á cabeceira, me receberam com olhares de desprezo e revolta. Segurando sua mão, mesmo sabendo que não adiantaria, falei: obrigado, papai, por me esperar vivo. E ele me respondeu por meio de uma tosse. Todos soltaram vozes de espanto. 

Coloquei um pouco de água em minha boca e passou á sua boca, forçando-o a beber. Mesmo com os olhos cerrados, ele bebeu em grandes goles. O senhor me entende, papai? Perguntei-lhe, aproximando a cabeça. Sim com a voz abafada, meneou a cabeça afirmativamente. Este foi o momento máximo de sua passagem. Pude sentir que ele se aliviara, e, com certeza, podia ir a um bom lugar. Isso foi á uma hora da manhã. Na sua velhice, papai aumentara ainda mais sua bondade e expandia sua alegria contagiante, ando sempre com os seus netos. Fazia coisas engraçadas como colocar sobras de doces na sopa quente e as comia e, enchendo as bochechas, ria gostosamente. Quando comentou este fato com meus filhos, ainda é assunto de alegria. 

Se quisesse expressar em uma só palavra toda a vida de meu Pai, diria que foi um “Pai carinhoso”. Naquela manhã do dia 28, bem cedo colocamos seu corpo no caixão. Na hora da preparação, achamos estranho que seu corpo ainda não estivesse gelado. Nem tampouco enrijecido. Na região, era costume enterrar o falecido sentado e, nessas ocasiões, quando se dobravam as articulações as juntas estalavam; mas, no caso dele, não fizeram nenhum ruído e se dobraram maciamente. Seu rosto mostrava alguém que descansava, parecendo inclusive que dali a pouco tornaria a respirar e a sorrir novamente. 

Aquele era o primeiro dia que o Rev.Shibuí participava do aprimoramento em Osaka. Terminando cedo de manhã a colocação de papai no caixão, saí direto para aquela cidade. Transmitindo aos dedicantes da organização do aprimoramento a maneira como deveriam preparar e dar andamento voltou á noite, para o velório. No dia seguinte 29 de Abril, realizamos o enterro. Refletindo, entendo que meu Pai se fora quando as atividades de difusão iam um ritmo acelerado. Nem tive tempo para sentir tristeza. Achei que coma minha postura, atarefado que estava com as tarefas divinas, os meus familiares pudessem entender e aprofundar um pouco na compreensão da Fé, mas estava redondamente enganado. Ainda estava por vir essa compreensão. 

Dois anos após a morte de papai, quando transferimos a igreja para Obara, bairro de Ichinomiya, aconteceram várias coisas que só pude entender como sendo obra de espírito de meu Pai. Os fatos ocorridos ao alugarmos a casa, o carinho do homem que morava nela para com os meus filhos, a nova expressão da difusão, etc. são coisas que gostaria de relatar em outro capítulo. 



Fonte: Livro/ “Cem Estórias da minha Fé”
(Fundação Mokiti Okada – M.O. A)
1.Edição/Julho 1987 – São Paulo/SP. Vol.II
Autor: Revmo. Katsuiti Watanabe
Igreja Messiânica Mundial do Brasil
Pág.(69/75)




Dilema envolvendo a morte de minha filha


No ano de 1946, ainda não havia se estabelecido um local para funcionar como igreja. A cidade de Nagoya sofrera bombardeio e as pessoas de meu relacionamento da época em que iniciara a difusão no outubro de 1943, se encontravam agora nas lavouras, e ali faziam os trabalhos de difusão, isto é cada lar era uma pequena igreja. 

As pessoas que conduzir ao caminho foram cada vez mais entendendo o círculo inicial, mas eu também, a pedido delas, percorria vários locais para realizar aprimoramentos. Quando estes eram feitos em Nagoya, elas vinham reunir-se para receber johrei comigo, uma vez que como haviam partido para difundir a fé em outras regiões, não era sempre que surgia uma oportunidade em que eu podia ministrar-lhes a Luz Divina. 

Havia também outro motivo. A difusão que fazíamos era centralizada no johrei, iniciando nesta como forma de mostrar a existência de Deus e terminando também nele com um meio de purificação espiritual. Eu mesmo, como era saudável, não fui salvo do sofrimento das doenças por tê-lo recebido. Lancei toda a minha vida nesta obra, porque presenciei a importante realidade em que os doentes se aliviavam e se curava com o simples fato de se entender a mão á sua frente. E a alegria dos que se salvaram através do johrei me incentivava a dedicar na Obra de Deus. Não obstante, aqueles que recebiam johrei, não conseguiam facilmente abrir os olhos para crerem que ele é á força de Deus. Compreendiam isso sim, que era um simples tratamento. 

Achavam também que a cura foi devida á maturação do tempo ou que o remédio que tomaram antes estava surtindo efeito. Não queriam reconhecer a eficácia do johrei. Ou, muitas vezes, achavam que eu o ministrava por ser uma pessoa especial. Dessa maneira, não era possível abrir um espaço para o caminho desenvolver. Os guerreiros de Deus devem ser pessoas que se voltam para terceiros e ativamente lhes ministram johrei. Para que se torne um combatente, é importante, acima de tudo, experimentar a sensação da força grandiosa da Luz de Deus, ministrando-a aos outros. A alegria ao vermos alguém ser curado pelo johrei que ministramos, é muito maior e mais profunda do que a de nos termos salvado. 

Formando este ponto de vista, decidi não ministrar johrei naqueles que não que não o ministravam-nos outros. Existem exceções, mas mesmo a pessoa que ingressara, na fé como deseja de próprias melhorarem, pare receberem johrei comigo, precisavam ministrá-lo. Então resolvi marcar um dia para eu próprio ministrar johrei. A Igreja- filial Wanouti ficava, na época, a cerca de cinco minutos de caminhada em direção morte da estação de Nagoya (Antes do bombardeio, tínhamos uma igreja no bairro Kohari. O Sr. Assano, que se tornara membro na primavera de 1945, adquiriu um imóvel em 46 e, no 1.andar dessa casa, realizávamos a reunião de aprimoramento mensal em Nagoya). 

Sendo um dia de início de verão, naquele dia também estavam cerca de cem pessoas para receber johrei comigo e era claro que o encontro iria até altas horas da noite. Às quatro da tarde, meu irmão veio com um aviso. Massako está em perigo de vida. Pedem para você voltar imediatamente. Ele viera de Kano, em Guifu, nossa terra natal, especialmente para me avisar. Minha família se encontra na residência paterna, perto da de meu irmão. Eu me deslocava, sem rumo, para realizar o trabalho de difusão. 

Quando voltara ao lar na semana passada, Massako, minha filha caçula de quatro anos, parecia ter apanhado um resfriado, mas, segundo meu irmão, a purificação era ainda mais severa, demonstrando sinais de peritonite. Nesses três dias, delirante de febre seus olhos perderam o brilho, sua barriga se enrijeceu e não se alimentava. Minha mulher também não sabia o que fazer. Segundo os que cuidaram dela, Massako tinha a sua vida contada para hoje ou amanhã. Assim relatou meu irmão. Havia perdido meu Pai, há poucos meses e, agora, minha filha se defrontava com a morte. Senti, num lampejo, que talvez Massako não se salvasse desta vez. No inverno, quando ainda andava tropegamente, caiu sentada no braseiro e queimaram profundamente as nádegas. No verão, caiu de bruços num fogareiro, e queimou o baixo abdômen. Parecia uma criança que já carregava alguma espécie de afinidade negativa. 

Depois de seu nascimento, passei me ausentar muito mais e, por isso, quase não a segurava, e ela mesma parecia não gostar que eu o fizesse. Porém, neste último mês, repentinamente, ela própria me pedia colo. Eu tinha plena confiança no johrei, mas para o caso de Massako, já não possuí a convicção. Desejei fortemente que estivesse junto de minha filha no momento de sua passagem, mas a minha fé não permitia que eu abandonasse aqueles tantas pessoas reunidas. Elas eram oriundas do Nordeste, ou kyushu e de outras regiões longínquas e tinham vindo especialmente para receber johrei. 

Eu havia abandonado a família para me dedicar ao próximo, escolhendo viver o Caminho da Lei de Deus. Mesmo que me retalhassem o corpo não poderia deixar aqueles que se dedicavam de corpo e alma á Obra Divina sair correndo ao encontro de minha filha, que eu já não tinha esperança de salvar significava renunciar a Deus. Palavras e ações ficaram desencontradas. Ademais, iria a Tóquio naquela noite para entrevistar-me com o Mestre e também apresentar os devidos relatórios, e já tinha comprados as passagens. (Naquela época, havia limitação na venda de bilhetes de trem, e necessitava-se de uma preparação bastante antecipada). Entrei para o caminho largando meus negócios. Tinha decidido suportar qualquer sacrifício e, justo naquela hora naquela hora sentia-me vacilante. Minha posição era literalmente escolher um dos dois. 

Era impossível transmitir, em palavras, ao meu irmão o que eu sentia. Tenho ainda muitas coisas a fazer para o bem da Obra Divina. Peço que você, com as suas próprias mãos, possam cuidar dela pedi-lhe, como se estivesse fazendo uma profunda oração. Mais uma vez meu irmão expressou seu pedido, mas eu não o atendi. Não podia aceitar. Meu irmão mostrou em seu rosto o quanto me achava frio e incompreensível, suspirou desanimado e se foi. Continuei a ministrar johrei em todos e tomei o trem noturno. Na manhã seguinte, compareci a Hakone, terminei a entrevistar com o Mestre e quando cheguei ao Hazan-So, (Solar da Montanha Preciosa), no bairro Ueno-Kami, Tóquio, entregaram-me o telegrama de meu irmão. Massako havia partido deste mundo. Um membro fervoroso, que era oficial da Marinha, chamado Inagaki, que me acompanhava nas atividades desde a noite anterior, veio até meu quarto e disse: Posso avaliar como está se sentindo e calou-se, começando a chorar copiosamente. Havia alguém que compreendia meu interior. Emocionei-me com isso e senti até que essa emoção foi o prêmio maior que recebi de Deus. 

Dessa maneira, pude expressar minha tristeza, minha dor em relação á minha própria filha e, pedindo perdão pela minha falta como pai, verti lágrimas soltas. Colocado na posição de escolher entre minha filha e a Obra Divina, dei importância á segunda. Podia parecer um tanto desumano, mas senti que com a sua morte, minha filha me ensinou o quanto é rigoroso o Trabalho de Deus. Não tenho dados para saber como as outras pessoas que estavam ao meu redor encaravam a Obra Divina, mas como que fazendo desse acontecimento uma oportunidade, começou a se desenvolver uma grande e fervorosa atividade de difusão que se ligou a um grande crescimento. A morte de Massako foi para mim uma difícil escolha, mas para minha esposa também foi igualmente um grande dilema. 

Após terminar todas as atividades, ao chegar a casa, encontrei minha filha dentro do caixão Zinho, vestida com a sua roupa de comemoração do terceiro aniversário, maquilada suavemente. Parecia, com a sua franjinha, uma linda boneca, e fui colhido pelo ímpeto de abraçá-la e tomá-la no colo. Desde que me tornara membro da igreja, tudo que eu fazia era motivo de desgosto para minha mulher. Ela não queria se esforçar para compreender a Obra Divina. Detestava, simplesmente. Ela pensava que fosse um entusiasmo passageiro meu ou até encarava como um capricho. Como não podia me impedir, assistia a tudo calada, mas no fundo, estava até odiando por eu não dar mais atenção ao lar. 

Desta feita, por não eu regressado logo mesmo com a filha á beira da morte, seu interior em relação a mim era cheio de labaredas de ódio e rancor. De fato, não falou comigo e nem mesmo lágrimas me mostrou. Após ter realizado o funeral no dia seguinte, já saí para a difusão. Voltando após uma semana encontrei minha esposa, que emagrecera bastante e nem falou comigo. O filho mais velho disse-me, ás escondidas, que nessa semana ela não comera direito nem mesmo tomara chá, só permanecendo imóvel e calada. 

Senti aquela atitude mais como contrariedade por mim motivada pelo ódio, do que tristeza pela perda da filha. Porém, não era proposital a sua falta de apetite e sede. Senti em sua barriga algo endurecido, do tamanho de um pedregulho, ao ministra-lhe johrei, que não surtiu efeito satisfatório. Fazia dezessete anos que já vivia junto com minha mulher e nunca a repreendera severamente, mas desta vez, disse-lhe em tom rígido: Você está me achando um homem frio. Não compreende minhas convicções e nem procura entendê-las. Se não lhe agrada o que faço e acha que estou errado, pode pedir o divórcio. Leve todos os bens e dinheiro, o que quiser. Em relação aos filhos farei o que você desejar. 

Tomada de surpresa, permaneceu alguns instantes imóvel, fitando-me rancorosamente, mas logo começou a chorar alto. Eu permaneci olhando-a. Desculpe-me balbuciou, dirigindo-me, finalmente, palavras que há dias não ouvia. E, a olhos vistos, a rigidez de sua barriga desapareceu como uma pedra submerge num lago calmo. Aquele endurecimento era devido estar contra mim e contra deus, mas, com o simples pedido de desculpas, dissolveu-se completamente. Minhas palavras severas foram motivadas pelo ponto crucial a que chegamos a morte da nossa filha. Para minha mulher, até então, era um grande dilema optar por aceitar ou recusar a minha nova missão. Após isso, ela se esforçou em compreender minhas atividades no caminho e, posteriormente, também começou desenvolver sua dedicação á Obra Divina. 

Mais uma vez não pude deixar de sentir a importância da convicção e das atitudes daqueles que servem a Deus. 





Fonte: Livro/ “Cem Estórias da minha Fé”
(Fundação Mokiti Okada – M.O. A)
São Paulo/SP. – Vol. II – 1 Edição/Julho/1987
Igreja Messiânica Mundial do Brasil
Autor: Revmo. Katsuiti Watanabe
Pág.(76/83)


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